A libertação das amarras de experiências ruins em ‘Memórias de um Caracol’
Um dos concorrentes a melhor animação neste Oscar, “Memórias de um Caracol” é uma grata surpresa de onde eu não esperava nada. Filmes em Stop Motion são um grande desafio. Em um estúdio com muito dinheiro, o trabalho fica mais fácil. Não se comparam os recursos que o vencedor do Oscar 2004 de melhor curta de animação, o australiano Adam Elliot teve em mãos com produções como Wallace & Gromit (que falaremos em outra oportunidade).
O filme consiste nas lembranças de vida de Grace Pudel, uma agora adulta que nasceu bem longe de um berço de ouro e já com diversos desafios, físicos, emocionais e financeiros. Ela é gêmea de Gilbert, um garoto com personalidade completamente diferente e um ponto chave nessa história de resiliência e superação.
O que acontece a partir do nascimento de Grace é simplesmente caótico e doloroso. A construção de uma pessoa pode ser ou mais, ou menos fácil, mas aqui há muita tristeza, muitos tons escuros, muita sobriedade e em boa parte do tempo, pouca alegria. Mas a alegria é entender que tudo se conserta, tudo se ajeita, tudo se recupera, afinal “um caracol nunca volta pela trilha, ele sempre segue em frente” deixando sua rastro, nojento na visão de muitos, para trás.
Grace utilizou de sua concha por muito tempo e em muitas situações, até aprender com Pinky, uma personagem excêntrica e divertida que ensina muito sobre aproveitar a vida o máximo que puder. Exatamente o que você tem na vida (e o que leva dela ao morrer) é aprendizado. Muitas vezes com atos ruins, erros, insatisfações e perdas. Tudo isso servindo para te impulsionar para frente e buscar novas experiências.
Definitivamente esse não é um filme animado que é para crianças. “Memórias de um Caracol” é um trabalho extremamente bem feito e com a participação (curta, é verdade) do cantor também australiano Nick Cave. Para alguns que se prendem ao passado, pode servir como um ponto de reflexão sobre como conduzir situações delicadas e como seguir em frente.
Lindo trabalho de stop motion para concorrer ao Oscar. Com uma campanha tímida e adversários melhores e mais engajados, não é o favorito e nem deveria ser, mas é uma boa história sem dúvida alguma. Adam Eliott confirma que, após 20 anos, segue tendo qualidade para trabalhar com animações.
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